Poupanças vão ajudar a reduzir despesas com o crédito da casa em 2024

BdP estima que haverá subida dos rendimentos disponíveis e das poupanças já no próximo ano. Emprego mantém-se resiliente.
18 dez 2023 min de leitura

Um pouco de viragem na economia portuguesa está a surgir no horizonte. Depois das famílias terem enfrentado uma elevada inflação, redução do poder de compra e altos juros, tudo indica que o próximo ano dará maior estabilidade aos orçamentos familiares. Isto porque a recente redução da inflação e a dinâmica do emprego e dos salários vão contribuir para elevar o rendimento real das famílias. E também as taxas Euribor já estão a dar sinais de descida, embora que ligeiros, permanecendo, assim, em níveis elevados. Por tudo isto, o Banco de Portugal (BdP) antecipa que as poupanças das famílias vão subir de 6,4% este ano para 8,4% já em 2024. Mas, com estas poupanças, as famílias endividadas deverão “reduzir mais expressivamente as suas despesas” com o crédito habitação.

No próximo ano, o regulador liderado por Mário Centeno antecipa que haverá um crescimento do rendimento disponível real e um aumento da taxa de poupança dos portugueses, o que deverá impulsionar a evolução positiva do consumo privado, embora de “forma moderada”, aponta no Boletim Económico de dezembro divulgado esta sexta-feira, dia 15 de dezembro:

  • rendimento disponível real das famílias: depois de aumentar 0,9% em 2023, deverá acelerar em 2024 para 3,2% e abrandar nos anos seguintes para 1,6%, um crescimento inferior ao do período anterior à pandemia (média de 2,6% em 2015–19);
  • as taxas de poupança deverão subir de 6,4% em 2023 para 8,4% no próximo ano, mantendo-se em 8,3% nos dois anos seguintes, acima da média apurada entre 2015 e 2019, de 6,9%.

A subida do rendimento disponível real reflete os “aumentos do emprego e dos salários nominais — progressivamente menores — e o crescimento mais contido dos preços. As medidas do Orçamento do Estado para 2024 (OE2024), em particular a redução dos impostos sobre as famílias [alterações no IRS] e o aumento das prestações sociais, têm também um contributo significativo para o aumento do rendimento disponível em 2024 e 2025”, explica ainda o BdP.

Contudo, estimam que as alterações no IRS incluídas no OE2024 vão beneficiar “de forma mais significativa as famílias de maior rendimento, que terão menor propensão a despender esses ganhos”. Por outro lado, a subida dos rendimentos familiares não deverá ser suficiente para se sobrepor ao “impacto negativo sobre o consumo resultante do aumento das prestações de empréstimos das famílias endividadas”.

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Uso de poupanças para pagar prestação da casa é visível desde 2022

Portanto, “as famílias com poupanças acumuladas deverão aumentar relativamente pouco o consumo face aos maiores rendimentos das aplicações financeiras, enquanto as famílias endividadas deverão reduzir mais expressivamente as suas despesas em reação aos custos mais elevados dos empréstimos”, conclui o regulador português. Isto porque, embora as taxas Euribor estejam a dar os primeiros sinais de descida depois de o Banco Central Europeu (BCE) ter decidido manter as taxas de juro diretoras por duas vezes consecutivas, os analistas esperam que se mantenham elevadas, pelo menos, no curto prazo.

Esta é uma tendência verificada até agora. Para fazer face ao aumento do custo de vida e das prestações da casa, muitos portugueses recorreram às suas poupanças acumuladas durante a pandemia. E, segundo os dados mais recentes da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE), as poupanças dos portugueses são das que caíram mais rápido entre 2022 e 2023 entre as economias avançadas.

Assim, neste contexto de incerteza, “a taxa de poupança deverá aumentar em 2024 por motivos de precaução e manter-se acima dos valores pré-pandemia no restante horizonte, para o que contribui também o incentivo ao aforro gerado pela maior rentabilidade das aplicações financeiras”, aponta o BdP.

Emprego mantém-se resiliente e salários vão subir

O que também vai contribuir para o aumento do rendimento real das famílias é a atual "situação favorável" do mercado de trabalho e os aumentos dos salários reais. Aliás, segundo o governador do Banco de Portugal (BdP), Mário Centeno, “o emprego em Portugal está nos níveis mais elevados registados no país”, disse citado pela Lusa.

Em 2023, o emprego permaneceu resiliente, embora com indicações de abrandamento na segunda metade do ano. E as projeções do boletim económico apontam para um aumento do emprego de 0,8% em 2023, com uma desaceleração para 0,1% em 2024 e 0,3% em 2025–26. “A oferta de trabalho deverá continuar a aumentar, sustentada num aumento da imigração e da taxa de atividade que compensam o efeito do envelhecimento da população”, lê-se no documento. Por outro lado, projeta-se uma subida da taxa de desemprego, para um valor médio de 7,2% em 2024–26, que é próximo da estimativa de taxa de desemprego tendencial.

Quando aos salários, Mário Centeno não tem dúvidas que “os salários em Portugal também estão nos níveis mais elevados que alguma vez foram pagos”, salientando que o conjunto dos salários reais conseguiu recuperar apesar do processo inflacionista, que pressionou o poder de compra.

As perspetivas para o futuro são igualmente otimistas: o salário nominal médio da economia deverá aumentar 7,5% em 2023, 4,4% em 2024 e 3,8% em 2025–26, num contexto de redução da inflação (em novembro fixou-se em 1,5%). E o salário mínimo deverá aumentar para 820 euros já no próximo ano, para 855 euros em 2025 e para 900 euros em 2026.

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