Subida dos juros pelo BCE está na "reta final" com descida da inflação

Nova decisão do regulador europeu será conhecida na próxima semana. Tudo está em “aberto”, diz vice-presidente do BCE.
05 set 2023 min de leitura

O ciclo de aperto da política monetária europeia, que leva mais de um ano, deverá estar a chegar ao fim. Esta é a visão do vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), Luis de Guindos, que garantiu que estamos na “reta final” do aumento das taxas de juro. Já Mário Centeno, membro do BCE e governador do Banco de Portugal (BdP), diz que a possibilidade de o regulador europeu subir demasiado as taxas de juro começa a ser um risco concreto. Tudo está em “aberto” e a nova decisão do BCE vai ser conhecida já na próxima semana.

“Estamos a entrar na reta final” da subida das taxas de juros diretoras, garantiu Luis de Guindos, num seminário organizado pela Universidade Internacional Menéndez Pelayo. Ainda assim, o vice-presidente do BCE, alertou que a decisão da próxima reunião de política de monetária agendada para 14 de setembro ainda está “em aberto”, uma vez que depende dos efeitos de segunda ordem e as expectativas de inflação (nomeadamente da inflação subjacente que permanece elevada).

Já Mário Centeno acredita que novas subidas das taxas de juro diretoras poderão trazer riscos concretos para a economia. “Na dimensão monetária, o risco de 'fazer demais' começa a ser material; a inflação tem-se reduzido mais rapidamente do que subiu e a economia está a ajustar-se às novas condições financeiras”, escreve o governador do BdP, na análise publicada esta segunda-feira (dia 4 de setembro pelo regulador bancário, intitulada “Encruzilhada de políticas”.

“A inflação deverá aproximar-se dos 2%”, já que “na ausência de novos choques e com a materialização da transmissão da política monetária à economia, o objetivo de médio prazo está ao nosso alcance no horizonte próximo”, defendeu Mário Centeno. De notar, contudo, que as decisões de política monetária são visíveis na economia com um “atraso” entre 12 e 24 meses, recorda Guindos.

 

Subida dos juros é “remédio amargo, mas necessário”, afirma Guindos

As declarações dos membros do BCE surgem antes da reunião da próxima semana do Conselho de Governadores do BCE, que segundo as intervenções dos responsáveis será baseada em dados. Para o seu vice-presidente, tudo está “em aberto”.

“O enquadramento económico (externo) mostra sinais de desaceleração e mesmo com dimensões recessivas. Os indicadores económicos da área do euro divulgados em julho não são animadores, mas o cenário em que evitamos uma recessão está ainda no centro das nossas avaliações”, acrescentou o governador português. Também Guindos apontou que, neste momento, a desaceleração da economia europeia é mais “visível” do que a da inflação.

A sustentar este contexto económico estão as tendências dos principais indicadores da Zona Euro em julho, aponta a análise do BdP:

  • atenuou-se a concessão de empréstimos (dada as condições de financiamento mais restritivas por via da subida dos juros);
  • regista-se a maior contração no setor privado;
  • melhora a confiança dos consumidores, mas piora a confiança dos investidores;
  • enfraquece e quase estagna a atividade do setor dos serviços e a recessão agrava-se na indústria transformadora;
  • arrefeceu a pressão sobre os preços;
  • abrandou para um mínimo o emprego.

Apesar os efeitos menos positivos da subida dos juros, Luis de Guindos tem defendido que esta política monetária é como um “remédio amargo, mas necessário” para ajudar a economia a curar-se e a voltar a crescer. “A melhor contribuição que um banco central pode dar para o futuro da atividade económica é reduzir a inflação”, resumiu o vice-presidente do BCE, reconhecendo que a inflação é "um mal absoluto para a vida económica e social" pelo impacto que tem, sobretudo, nos segmentos da população com rendimentos mais baixos.

 

Redução dos juros só quando inflação estiver controlada, diz Centeno

A questão que se impõe agora é quando é que o BCE fazer colocar um ponto final no aperto da sua política monetária. Para Mário Centeno, só depois de “assegurada a convergência para a estabilidade de preços, a política monetária deverá traçar um caminho previsível de redução das taxas de juro, mas longe dos tempos de taxas de juro de zero ou mesmo negativas”.

“As políticas económicas devem continuar a combater as causas da inflação, porque esta é um sintoma, minimizando os riscos de desestabilização para os cidadãos e lançando as bases para um novo ciclo económico. Neste momento difícil para a geopolítica e a economia, a estabilidade e previsibilidade das políticas são o nosso maior ativo”, disse ainda o governador do BdP.

Ambos os representantes consideram a redução da dívida uma prioridade para garantir a sustentabilidade da economia europeia ao longo do ciclo económico marcado pela inflação mais baixa e taxas de juro elevadas.

Quanto à crise imobiliária na China, o vice-presidente do BCE considera que o seu impacto na economia europeia não deriva de uma exposição “directa” das instituições financeiras europeias a este setor, mas, fundamentalmente, por uma via “indireta” como consequência do crescimento mais lento da economia mundial.

Fonte: Idealista News

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